domingo, 27 de fevereiro de 2011

Pro dia Nascer Feliz...

Posted by Floripa Sound Experience On 08:04



Da garagem, sala, quarto ou do salão de festas de qualquer edifício; com colegas, amigos ou até desconhecidos, sempre em busca de uma harmonia, de um entrosamento, em cada nota de cada instrumento, entre acordes e batidas, discussões e até brigas que, no final das contas, conduzem ou deveriam conduzir a um lugar não-comum e talvez a uma mistura, a um encontro musical que alcançasse o tão almejado acorde, melodia, “letra-palavra”, som, efeito, chegando enfim a uma essência única, ao ápice de uma perfeição espelhada e inspirada por outros, os ditos grandes “referências”, arduamente absorvidos e aproveitados de forma (in)consciente, até a construção de um estilo, de uma sintonia perfeita como aquela das ondas do rádio.
A construção de um “som” próprio requer mais do que uns momentos juntos e umas combinações entre sons e silêncio, afinal, construir, tornar parte de algo, exige intenção e intensidade a fim de tornar esse “produto” da arte sonora, há muito cultuado, um produto vivo, experimentado, audível, integrado à vida, ao contexto. E é por meio de uma vontade de fazer parte da História, de ser citado pelos críticos, de tornar-se referência depois de tantas referências ou simplesmente de viver, ganhar a vida fazendo aquilo que ama, e é por tudo ou nada disso, que muitos trilham o caminho nada fácil na busca pelo reconhecimento musical. Uma busca repleta de entraves, pedras no caminho, que vão desde assuntos financeiros até questões ligadas à formação e às complexas relações humanas.  
  E ainda assim, em meio a tantas dificuldades, ser músico de profissão ou apenas de nome, vai muito além de todos os obstáculos (ou não, em alguns casos, mas isso é assunto para outro post, retomando...). Ser músico para alguns é como uma religião, uma crença, um estado de espírito, para outros, profissão, orgulho minado de valores e de atitudes, enquanto para outros é um relacionamento sério, casual, experimental. Por isso, ser/estar nesse meio, construir e carregar essa identidade requer mais do que ensaiar, errar, experimentar, tentar, mudar até acertar; não basta apenas gostar de fazer música porque, muitas vezes, gostar não compensa, não sustenta, é preciso ter paixão, amar tudo isso e estar preparado para o “namoro” que é ter uma banda, sabendo que entre brigas e separações que poderão ocorrer por inúmeras questões, aqui, não questionáveis, os ensaios devem continuar, a música segue com ou sem esse ou aquele integrante. É como se ela, a música, fosse a vida em um relacionamento normal, o casal se separa e cada um segue a sua vida, aqui, cada um segue a sua música.
E no fim de tudo, cada pessoa tem suas intenções e intensidades que as levam por caminhos distintos, por isso ter/fazer parte de uma banda, seja por hobby, trabalho, amor, implica uma vida de buscas, de trabalho, de aperfeiçoamento e de lapidação do que se quer tornar. Uma representação de visão do mundo, por meio de outros olhares, de outros impulsos. São noites/dias, compassos, ideias, acordes, gargalhadas, clichês, som, silêncio, escalas, sol, um lugar ao sol, aos ouvidos e à memória de quem enxerga e constrói sentidos naqueles sons e palavras. Manifestação e representação, diálogo entre seres que podem desfrutar de toda benção e maldição. Escolhas e no fim, vidas.
Como diria o grande Cazuza:
“O mundo inteiro acordar e a gente dormir. É essa a vida que eu quis”


Postado por Tauillio Machado.